"Sing! My angel of music..."

Tuesday, March 13, 2007

Mabon





Sofia estava folheando um antigo manuscrito, entretida na leitura de
velhos contos que a levavam a velhos reencontros. Sua mente vagava pelas
lendas nas quais sua história estava inserida desde tempos distantes,
talvez até da lendária e mítica Atlântida. Como sacerdotisa do templo,
sabia que sua história era antiga, antiguidade que se confundia com a
própria idade da alma. O relógio corria lentamente, marcava 6 horas. Em
suas leituras Sofia costumava demorar horas, aproveitava esse tempo em
seus devaneios, vivia ali com suas fadas, seus deuses e seus demônios.
As palavras eram suas companheiras de solidão, o silencia era, nesses
momentos, Apolo com sua Harpa, cantando segredos e tocando mistérios, que
iam e vinham, no eterno ciclo que ele próprio, como deus solar,
representava tão bem. Mas algo havia de diferente naquele dia, Sofia não
conseguia centrar seus pensamentos, uma angústia evacuava seu peito,
deixando uma enorme sensação de vazio. Certos instantes o ar lhe faltava,
clamar
à Éolo de nada adiantava. Correu então para o átrio do templo, qual
não foi sua surpresa quando um vente gélido atingiu-lhe então a face
rosada. Do carvalho ao seu lado, viu cair uma folha, seca e sem cor. Olhou
ao redor e todo o campo estava coberto por folhas, caiam aos milhares,
nas águas da cachoeira Sofia via folhas que vinham de longe, eu
acompanharam o curso do rio e que vinham anunciar o curso da terra. O vento
que lhe esfriou a face, soprou outra vez, e só então Sofia entendeu o que
ocorria à sua volta. Foi com tristeza que sentiu novamente que o Sol
iria afastar-se, e preparar o caminho para sua morte. Após mais uma roda,
o Filho da Deusa, após ter fecundado a mãe e distribuído sua luz ao
mundo, agora preparava-se para partir.

Uma águia cantou acima do templo, Sofia escutou nesse canto o pranto da
natureza pelo afastamento de seu consorte, Astarte sentia a despedida
de Tamuz, logo o deus morreria. Estava claro o motivo dos sentimentos
anteriores, apesar de triste elo fim daquele ciclo, sentia no fundo de
seu ser uma certa felicidade, sabia esperar pela sua morte, e também pelo
seu renascimento. Havia sido preparada para aquilo desde seu
nascimento. Foi ao interior do templo e lá ficou por algumas horas. Novamente
surgiu, adornada de belo vestido marrom, carregava em suas mãos oferendas
para o deus. Foi até o campo, no altar depositou feixes de trigo, pôs
pães, que dividiu entre os deuses e algumas pombas que ali estavam.
Deixou também aos deuses e aos animais, milho, cevada, e nozes. O que
oferecia aos Antigos, era consumido pelos viventes do mundo que Eles regiam,
ela sabia disso. Sob o aroma da mirra Sofia então dançou, e foi
girando, girando em eterna espiral, e nesse ritmo adentrou novamente o templo.
Não estava triste, agora sabia que o fim de um ciclo estava se
aproximando, e nesse fim muitos de seus defeitos e suas fraquezas também
estavam definhando. Sentiu que ali, que o envelhecimento da Deusa lhe
proporcionava novas oportunidades de conhecer suas próprias profundezas. Ao
adentrar no templo, Sofia estava adentrando em si mesma, conhecendo seus
medos e desafios. Fechou a entrada do templo e seguiu a seus aposentos,
em eterna espiral agora ela girava no ritmo do Casal Divino, e sabia
que como eles, era chegada a hora percorrer o caminho do submundo em
direção à morte. Assim a Espiral foi girando, eternamente girando.

*FELIZ MABON!!!*



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