Um Conto De LughNassadh
Lyla sentou-se embaixo do grande carvalho no centro do pomar, enquanto as crianças chegavam e acalmavam-se. O verão ia alto, e nas fazendas vizinhas as colheitas já se haviam iniciado. Não como eram nos tempos antigos, e sem a mesma importância religiosa para os camponeses, mas ainda na mesma data.
Assim que todos se acomodaram, Layla começou a história do dia.
'Do topo da colina, bem próximo à escarpa, o Deus observava os campos. O Sol se punha no Oeste, e o vento Norte já soprava. Um veado se aproximou e parou ao lado do deus, como que o acompanhando na contemplação, silencioso.
"Vê como os campos estão todos verdes e cheios de vida? Amanhã é o dia da primeira colheita.", disse o deus ao veado.
O Deus pegou sua flauta e a levou à boca. A melodia era lenta, quase melancólica, mais como um acalanto, e logo se espalhou pelo vale lá em baixo. Outros animais se aproximaram e sentaram-se ao pé do deus para ouví-lo tocar.
A última nota se estendeu até que o fôlego do Deus se acabasse, e, nesse exato momento, o Sol desapareceu sob a linha do horizonte. Olhando para os campos pela última vez, o deus se virou.
"Vamos, meus amigos. É hora de me preparar para ser recebido amanhã." E todos desceram a colina.
Durante toda a noite haveria preparação para o ritual do dia seguinte, e era muito importante que tudo estivesse pronto na hora certa. Na vila, também os camponeses passariam a noite em preparação, descansando para o início das colheitas no dia seguinte.
E já próximo do amanhecer, homens e mulheres se concentraram nos campos e olharam para o Leste. Quando a primeira luz brilhou no horizonte, a sacerdotisa deu um passo à frente de todos e levantou os braços.
"Salve, grande deus sol. Estivemos esperando por tua presença até agora. Sê bem-vindo mais uma vez."
O grande astro surgiu, erguendo-se com calma por detrás da terra. O sacerdote pôs-se ao lado da sacerdotisa.
"Salve, grande deus sol. Mais uma vez, dou-lhe as boas vindas. Nós lhe prestamos reverência neste dia em que os campos estão verdes e prontos para serem ceifados. Nós lhe agradecemos e adoramos, pois é também a ti que ceifaremos. "
Devagar, a luz do Sol bateu nos rostos de cada um ali presente, e muitos sorriram, sabendo que o Sol havia consentido. Sacerdote e sacerdotisa disseram, juntos
"Que assim seja",
e caminharam até a plantação, onde a sacerdotisa, com a foice dourada, fez o primeiro corte.
E todos os outros camponeses empunharam suas próprias foices, e a primeira colheita havia começado.
O sol continuou a subir, e logo se pôs. E durante dias e dias continuaria a observar os campos desaparecendo, até que também sua força desaparecesse. E esse é o curso natural das coisas...
E assim seria.'
As crianças ouviam atentas.
'Essa é a história de como o deus sol cede suas forças para que os campos cresçam, e de como sua força diminua à medida em que as plantações são ceifadas. Ao fim das colheitas, tudo está estocado, e então o ano escurece e os povos do campo se recolhem.
Muitos de nossos irmãos chamam esta data de Lammas, e outros, ainda, de Lughnassadh. É o primeiro festival da colheita. Lugh, o deus do sol celta, envelhece justamente nessa época, e é honrado com oferendas, altares e festas.
A nosso modo, também honraremos o sol, assando pães e enfeitando nosso altares. Vamos agora à Casa Grande, estão todos nos esperando para o almoço.'
Como de costume, as crianças correram na frente, e Layla ficou para trás, sentada sob a copa do carvalho por mais algum tempo...
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